sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Abertura de vagas para voluntariado!

Temos o pazer de anunciar a abertura das primeiras vagas de voluntariado para projectos no Equador e no Perú!
Jovens entre 18 e 30 anos terão a oportunidade de realizar o seu Serviço Voluntário Europeu na América Latina e através do GAIA Alentejo. Os projectos terão a duração de um ano, começando em Julho de 2010. Os jovens interessados deverão enviar até dia 31 de Dezembro de 2009 o seu CV com fotografia e carta de motivação, em espanhol, para o email saraserrao@gaia.org.pt, referindo o título do projecto a que candidatam.
Informação detalhada sobre as vagas abertas e processo de candidatura em Voluntariado na América Latina, no site do GAIA!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

No vale sagrado dos Incas

Nos séculos XIV e XV, a civilização Inca dominou em territórios dos actuais Perú, Equador, Bolívia, Argentina e Chile, centrando-se na cordilheira dos Andes. O império Inca tinha por capital a cidade de Cusco e ficou marcada por uma estratega organização política, com eficientes redes de comunicação por estradas entre Cusco e as longíquas regiões do império, províncias regidas por governantes leais ao imperador. Os Incas foram excelentes construtores em pedra, o que testemunha não só o-que-não-precisa-de-apresentação Machu Pichu, mas uma série infindável de estruturas arquitectónicas em todo o território Inca, algumas religiosas, cívicas ou militares que subsistem hoje como ruínas, outras ainda em uso. Falo sobretudo de socalcos, em pedra, que permitiram e permitem ainda a agricultura em regiões montanhosas. Os cultos, segundo o que nos contam guias e historiadores, centravam-se em elementos naturais como o sol (inti em quetchua) ou a mãe terra (pachamama). Nós ficámos bastante impressionados e temos reflectido sobre este foco dos Incas na agricultura, no que nos pareceu uma ligação intensa com a terra enquanto elemento sagrado. De que outra forma podemos compreender a existência de tanto espaço agrícola, interpretado pelas estruturas de socalcos em pedra, em locais sagrados e de culto, em espaços que evidenciam ter tido grande importância na malha arquitectónica?

Visitámos o vale sagrado dos Incas, que desemboca no Machu Pichu, e que - li algures - poderá ter sido considerado como o paralelo da via láctea na geografia e urografia andina. É um vale lindo, entre escarposas montanhas, que caminha em direcção à selva amazónica. Nas escarpas as populações usam técnicas agrícolas tradicionais e constroem em terra, hábitos ecológicos impostos pela escassez de dinheiro. Aqui encontrámos o testemunho Inca de Maray. Julga-se que os socalcos concentricos serviram como laboratório de agricultura: variações de luz/sombra e elevação resultam numa variação de microclimas de degrau em degrau, que permitem estudar a adaptabilidade de diferentes espécies a diferentes condições climatéricas.

Ollantaytambo é uma vila Inca habitada. Grande parte das ruas, casas e sistemas de transporte de água/ irrigação remontam a essa época. Existe em Ollantaytambo um espectacular conjunto arquitectónico, religioso e militar, no topo de estruturas em socalcos. Em cima, um local de culto a Pachamama, construído com gigantes blocos de granito trazidos de quilómetros de distância e trabalhados de modo a encaixar, sem argamassas de ligação. Um imponente tributo à mãe terra, emoldurado por socalcos de áreas supostamente cultivadas. Se é que me posso apoiar no relato recolhido de diferentes guias que contam histórias distintas, julgo ser uma imagem lindíssima, o culto à natureza através agricultura e por ela também, no tempo dos grandes mestres do cultivo que souberam plantar centenas de espécies diferentes de milho e de batata!

Por fim o Machu Pichu. Totalmente rodeado de montanhas escarpadas, cobertas de vegetação que indicam o início da selva, é um conjunto arquitectónico em pedra, com muitos socalcos... e muitas construções, algumas simples, outras feitas de imponentes blocos graníticos encaixados. É soberbo! Tão pouco aqui os guias estão em consenso. Fala-se de palácio de Verão do imperador ou de grande centro religioso. A versão que mais gostámos foi a de centro de conhecimento: Machu Pichu funcionaria como uma universidade para os conhecimentos da terra e agricultura, da cosmologia e astronomia, dos cultos e ritualística.
A grande força dos Incas decaiu com a chegada dos espanhóis e a sua cultura e língua quechua foi-se misturando. Machu Pichu foi abandonado, não se sabe porquê. O testemunho Inca está nos indígenas de hoje, mais do que nos muros desabitados de outrora. Cabe a todos nós proteger e incentivar as culturas locais, onde quer que estejamos, re-conhecer a importância do culto e cultivo da terra e preservar a riqueza multi, pluri, transcultural no mundo em que vivemos.
Sara

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Terras das Crianças no Perú

Entregar uma porçao de terreno às crianças, para que dela cuidem. Contar histórias sobre a natureza, fazê-las acompanhar e amar as suas plantas que crescem. Acompanhar o crescimento de futuros guardioes da terra e da natureza, dando-lhes todo o direito a ser crianças. Trabalhar pela defesa do ambiente pela maneira mais criativa e divertida e com meninice. Este é o desafio proposto a todas as escolas e pais e organizaçoes e crianças, lançado pela associaçao Ania, sediada em Lima.
Várias escolas e agrupamentos de pais e crianças, nos quatro cantos do Perú, aceitaram o desafio. E nós também: enviando voluntários para diferentes projectos e começando, passo a passo, a nossa Terra das Crianças em Portugal - quiçá na alentejana Aldeia das Amoreiras, através do Centro de Convergência...?
Reunimos com o pai e mentor de Ania em Lima e seguimos em direcçao a Cusco para visitar alguns projectos. No Vale Sagrado, que desemboca no tao conhecido e místico Machu Pichu, estivemos já em Wiñaypac, Tikapata e Ollantaytambo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Shinai: pensar, recordar ou amar

Em Lima reunimo-nos com a organizaçao Shinai. Shinai significa pensar, recordar ou amar no idioma Nahua, do povo que vive no Sul da Amazónia peruana. Esta organizaçao, composta de jovens, apoia as comunidades amazónicas na defesa dos seus direitos contra a exploraçao dos recursos naturais na Amazónia, com graves impactes ambientais. Falamos sobretudo de exploraçao petrolífera e de comunidades que vivem na sombra da desflorestaçao, derrames de petróleo, contaminaçao dos seus recursos hídricos e solos. Falamos de comunidades que, devido a estas exploraçoes, deixaram de ter o espaço natural necessário à continuaçao das suas práticas ancestrais de caça e recolecçao e das suas práticas rituais, e assim vao perdendo a sua identidade e auto-estima. Há graves repercussoes na saude das crianças e de toda a comunidade, devido à ingestao de águas contaminadas e demais contacto com agentes nocivos.

Shinai trabalha com diversas comunidades indígenas, através de processos participativos e de capacitaçao. Começam por fazer um mapeamento dos territórios de cada comunidade. Os mapas resultantes permitem defender os seus direitos de cada vez que uma nova empresa quer impôr a sua autoridade sobre determinadas áreas, ignorando a que comunidade pertencem. Os mapas participativos, desenhados pelos indígenas locais, documentam a vivência pessoal dos territórios e os conhecimentos das plantas, dos animais e dos mitos. De seguida, a capacitaçao de monitores ambientais eleitos pela comunidade e dotados de GPS e câmaras fotográficas permite monitorizar delitos ambientais.
Shinai vai acolher voluntários, que estejam fortemente interessados e motivados para experienciar trabalho de campo junto de comunidades na Amazónia profunda e a partir da cidade de Iquitos - onde todas as deslocaçoes se fazem de barco.

Lima, Perú




¿ Ecuador !


Partimos para esta nossa primeira viagem à América Latina com a expectativa de conhecer um povo politicamente activo, numa cidadania muito participativa. Foi isso que encontrámos no Equador. Se num primeiro dia em Quito nos deparámos com uma manifestaçao pró-governo Correa, poucos dias depois encontrámos milhares nas ruas, exprimindo a sua opiniao contra a política na área das universidades. Aí estavam pessoas vindas de todas as partes do país, de várias idades e etnias, firmes nas suas vozes e convicçoes.

No Equador é obrigatório votar. As listas saem com números e nao com cores de esquerda ou de direita. Por todo o país vimos casas com bandeiras ou posters ou mesmo pinturas, exprimindo o numero da sua eleiçao. De resto é comum encontrar pinturas ou dizeres nas fachadas das casas, que podem anunciar algum produto ou uma qualquer redençao religiosa...

Correa taxou pela primeira vez grandes grupos económicos operantes no Equador, o que, juntamente com apoio à construcçao de casas e o tornar gratuito da educaçao básica, o tornou bastante popular. A nível ambiental tem sido desastroso, dando luz verde à exploraçao mineira e petrolífera, com grandes impactes ambientais em áreas protegidas pela sua enorme biodiversidade.

No Equador há autocarros para todo o lado a toda a hora. Passam por nós a gritar os seus destinos, como se se tratasse de uma grande competiçao por passageiros. Passam música bem alta e pelo caminho entram pequenos negociantes que te tentam vender todo género de comida e bebida, doces e CDs. Também há que viajar muito de noite. A cordilheira dos Andes passa bem no centro de país, de Norte a Sul, por isso qualquer deslocaçao entre a Costa e Oriente tem de passar pelas montanhas.

Satisfizemos as nossas expectativas de encontrar um forte movimento social, com muitas organizaçoes nao governamentais e, sobretudo iniciativas comunitárias. Bosques comunitários, turismo comunitário, economia solidária, pudemos visitar bons exemplos destes movimentos e, sem dúvida, aprender muito com eles. Nao posso deixar de referir o enebriamento de algumas paisagens, sobretudo lá onde a natureza é ancestral ou colossal, como no caso das montanhas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Amazónia!

Ha! Depois de tantos anos a sonhar com a Amazónia, ei-la que se descobre perante nós! Chegámos dia 19 de Novembro a Macas, no Oriente (como no Equador se designa à regiao amazónica), mais uma vez em longas horas de autocarro, desfilando entre vales verdes e cascatas à beira da estrada e aldeias de madeira invadidas de verde por todos os cantos. Que deslumbramento!
Na cidade de Macas reunimos com a Fundación Chankuap. Esta organizaçao trabalha com comunidades indígenas Shuar e Achuar, distantes da cidade por intermeio de avioneta e barco. Com eles trabalham temas como a segurança alimentar, acompanhando-os no cultivo de hortas de subsistencia e depois comprando produtos excedentes, tais como o amendoim, o achiote, o gengimbre e muitas outras plantas. Estes produtos sao transformados em Macas, nas instalaçoes da Fundación Chankuap, resultando em cosméticos naturais ou fito-fármacos. Também se comercializam produtos nao transformados e ainda artesanato. Muitos dos produtos da fundaçao sao exportados como Comércio Justo. Além disto, a fundaçao trabalha com meninos de Macas, para reinserçao e reforço escolar, prevenindo a existencia de crianças na rua.
O trabalho da Fundación Chankuap em Macas originou-se de missoes salesianas junto das comunidades indígenas e, embora a maior parte da equipa seja laica, nao pudemos aperceber através da reuniao qual o teor cristao da sua intervençao junto das comunidades.

Depois de reunirmos com Chankuap, decidimo-nos oferecer a nós próprios dois dias de selva! Sim, com crianças e tudo e sim, é possível. Nao penetrámos profundamente na selva, mas caminhámos em floresta primária e andámos de canoa nos rios. Onde estivemos, o risco era reduzido de encontrar animais ou insectos "perigosos". Uma guia explicou-nos as dádivas florestais, entres legumes da selva, plantas de onde se bebe água e muitas plantas medicinais. À noite, numa cabana, contou-nos histórias da mitologia Shuar e de algumas práticas xamanicas. No dia seguinte decidimos caminhar até uma cascata... e fomos completamente banhados por uma chuva torrencial, que nos deixou encharcados a todos. Sim, crianças e tudo... Bem que se denomina em ingles "rain forest" às florestas tropicias! Apanhámos mais um autocarro de longas horas e seguimos em direcçao ao Perú.