sábado, 31 de outubro de 2009

A comunidade activista de Intag

Passámos quatro dias na zona de Intag, onde se encontra uma inesquecível história de resistência e defesa do património ambiental, por parte das comunidades locais e de organizaçoes. A comunidade de Junin, em Intag, foi colonizada a partir dos anos 50 por pessoas de diferentes meios culturais do Equador, que a construiram com as suas próprias maos e com um fortíssimo espírito comunitário. Exemplo disso foi o estabelecimento de "mingas", que significa dias de trabalho comunitário, em que todos os vizinhos se encontram para construir infra-estruturas comunitárias, mas também para se ajudarem uns aos outros na construçao das suas casas e nos ciclos agrícolas das quintas. Junín encontra-se numa área natural riquíssima de bosque nublado, com áreas de bosque secundário e primário, onde residem variadíssimas espécies de animais, aves, borboletas, árvores, orquídeas... e onde se descobriu cobre.

"A maldiçao do cobre" como lhe chamam grande parte dos residentes da zona de Intag. Pois com o cobre chegaram pesadíssimos interesses de exploraçao mineira, através da concessao por parte do governo a grandes empresas multinacionais, primeiro a Mitsubishi japonesa (Bishimetals) que foi expulsa pura e simplesmente através da acçao da comunidade local. Teve-se acesso ao estudo de impacto ambiental, que dava conta da necessidade de deslocaçao integral de cinco comunidades, incluindo Junín, de massiva desflorestaçao e contaminaçao dos rios. A populaçao nao foi consultada. Recentemente a luta continuou contra a empresa canadense Ascendent Copper, até que o governo foi obrigado a retirar as concessoes para a exploraçao do cobre de Junín. A história é longa e certamente apaixonante, resultando numa crescente politizaçao da comunidade local, que assumiu a responsabilidade pela conservaçao do bosque comunitário, e no surgimento de uma série de actividades económicas sustentáveis, tais como café biológico de comércio justo ou produtos naturais feitos por cooperativas de mulheres. Quando voltarmos a Portugal teremos todo o gosto em mostrar-vos documentários fortíssimos acerca da luta de Intag.

Em Intag reunimos com diferentes organizaçoes com trabalho estabelecido há anos na direcçao do desenvolvimento sustentável, sempre em respeito pelas comunidades e pelo meio ambiente. Muitas destas organizaçoes têm já experiência em receber voluntários, por isso os projectos daqui resultantes em parceria com o GAIA serao com certeza muito bons. A DECOIN é uma organizaçao ecologista que nasceu da luta contra as mineiras e que conta agora com variados projectos de educaçao ambiental e conservaçao dos bosques comunitários. A AACRI é a associaçao de micro-produtores de café biológico em sistema agro-florestal e comercializado através do Comércio justo. A ACAI é a associaçao de promoçao da produçao agro-ecológica na zona de Intag. O periódico Intag, de cariz ecologista, existe há nove anos e desenvolve a comunicaçao social com empenho das pessoas locais. O Consorcio Toisan, por sua vez, agrupa as nove mais importantes organizaçoes sociais, produtivas e ambientalistas da zona de Intag. E Eco-Junín, bem no meio do bosque nublado, é uma iniciativa de turismo ecológico e comunitário, que oferece alojamento e visitas a actividades tradicionais de fabrico de açucar de cana e de aguardente (também lá estivemos, claro), às áreas de luta contra as mineiras e a locais especialmente bonitos dentro do bosque.
Vimos certamente mais ricos de Intag. Foi emocianante conhecer as pessoas das organizaçoes, mas sobretudo os modestos habitantes campesinos de Junín que defendem a sua causa de coraçao e com inabalável empenho.

Accion Ecológica, uma organização inspiradora

Imaginem uma reserva natural amazónica no Ecuador onde num metro quadrado existem 644 espécies de árvores, mais do que em toda a América do Norte… Imaginem que existem nesta região comunidades indígenas nómadas que nunca viram a civilização. Imaginem que por baixo desta biodiversidade gritante existe uma grande reserva de petróleo. Imaginem um país em que 71% das exportações são de petróleo (10,5 milhões de usd) e que as explorações vigentes de petróleo têm um tempo de vida limitado…

E agora imaginem algo que parece impossível mas está a acontecer: uma organização ecologista, com 15 trabalhadores, que inicia e coordena uma campanha nacional e internacional contra a destruição desta reserva natural através de uma proposta para conseguir angariar 50% da receita espectável do petróleo.

Escritórios daAccion Ecológica em Quito-Ecuador.

Esta mesma organização muito atempadamente conseguiu fazer chegar, a uma comunidade extremanente isolada que vive no meio do Bosque Nublado, um ecossistema subtropical único no mundo, um estudo de impacte ambiental quase secreto sobre uma exploração mineira gigantesca de cobre que destruiria todo o ecossistema. Esta mesma Accion Ecológica levou um grupo de mulheres a visitar uma mina de cobre num país vizinho e muito rapidamente toda a comunidade impressionada pelo relato das mulheres e pelo estudo de impacte ambiental se ergueu para lutar contra o projecto de exploração mineira. Hoje são mais de 10 as organizações que trabalham nesta bacia hidrográfica para defender o ecossistema do Bosque Nublado. Conseguiram impedir a exploração mineira e expulsar a empresa estrangeira que queria invadir o território e controem agora o desenvolvimento sustentávelmente forte.
E dizem: “Com petróleo e cobre o Ecuador fica mais pobre!”

A Accion Ecológica, tem várias campanhas como se pode ver no site, desde a soberania alimentar, aos transgénicos, à mobilidade sustentável ou ao petróleo. Tem escritórios numa vivenda com jardim em Quito (ver foto) e tem vários projectos inovadores e criativos como por exemplo a “clínica ambiental”, um espaço onde se reúnem mensalmente dezenas de técnicos convidados especialmente para discutir as soluções para um problema ambiental declarado por uma comunidade ou grupo de cidadãos qualquer.

Produzindo estudos, publicações, acções, educação, formação, animação, informação e luta por um mundo mais justo para as comunidades que cuidam responsávelmente dos seus ecossistemas, a Accion Ecológica, no Ecuador, é sem dúvida uma organização excelente para fazer um voluntariado de superior qualidade em ecologia e acção.

Procuramos duas pessoas que por um ano vão… e voltem! (para partilhar e agir, também em Portugal)

sábado, 24 de outubro de 2009

Construindo em Super Adobe

Estamos agora alojados em casa de um dos líderes da Comunidade Tola Chica, uma comunidade indígena que foi a primeira no país a legalizar a sua Comunidade ganhando assim uma maior capacidade negocial para fazer face aos interesses dos projectos de florestacao de eucalipto ou face aos interesses imobiliários ou face aos interesses do estado. Esta comunidade que fala Espanhol e Quichua está legalizada desde 1944 e funciona com uma assembleia que decide e projecta os trabalho comunais. Um destes trabalhos é o Centro de Capacitacion que está a ser contruido baseado num design de Permacultura, na técnica de Super Adobe.
Tivemos a sorte de estar aqui para aprender esta técnica de construcao sustentavel e também trabalhar em conjunto com a comunidade e conhecer melhor esta cultura.

Rogeglio a demonstrar como se compacta o rolo de Super Adobe

Há muito para contar e muitas perguntas para responder...
Como é que a Permacultura chegou a esta comunidade?
Rogeglio, é membro da RedSemillas, permacultor e formador de comunidades indígenas nas áreas "manejo" florestal, agricultura biodinamica, conservacao de sementes e variedades tradicionais, compostagem, entre outros. Formado em Permacultura e com uma grande experiencia agrícola proveniente de toda a prática tradicional na sua comunidade, Rogeglio tornou-se num dos lideres da comunidade e sonhou contruir um centro de permacultura, formacao, espaco de saude natural, espaco para assembleia comunitaria, espaco de internet, biblioteca e tudo isto acompanhado de casas de banho secas, sistema de captacao de agua da chuva, sistema de tratamento de aguas, construcao ecologica em terra e um zonamento com zonas 1,2,3,4 e 5 , desde o espaco comunal, ä diversidade do bosque andino replantado até ao topo virgem da montanha onde se preserva e se contempla.

Redsemillas, Tumbaco

Saímos de Quito na quinta-feira, dia 22, viajando de autocarro por uma ininterrupta extensao da cidade até chegarmos a Tumbaco. Aqui encontrámos o Javier da rede de colectores de sementes, para ir conhecer o centro e a equipa de coordenacao da rede. Fazem parte desta Redsemillas muitas quintas localizadas nas distintas paisagens do Equador, com práticas diferentes. O que tem em comum é plantarem variadas espécies de plantas, sobretudo as tradicionais do Equador, assim evitando que as sementes desaparecam. Em momentos específicos, os participantes da rede encontram-se para partilharem as suas sementes. Além desta prática, a Redsemillas organiza cursos de design ecológico, permacultura, florestacao ou saúde natural. Trata-se de um grupo de pessoas muito positivo e interessante e só esperamos grandes experiencias na cooperacao com eles, para nós mas sobretudo para os voluntários que poderao partilhar um período mais longo de tempo com estas pessoas maravilhosas.



A Redsemillas demonstrou grande interesse em acolher voluntários, em diferentes projectos liderados por quintas distintas. Vamos poder anunciar em breve a abertura de vagas para SVE (Servico Voluntário Europeu) para os projectos da Redsemillas. Possivelmente resultarao também deste encontro iniciativas mais curtas de voluntariado, no ambito de Turismo Solidário.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Un Techo para Mi Pais, Quito

  • Encontrei-me com os três jovens representantes da Un Techo para Mi Pais na segunda-feira, assim iniciando as rondas de motivaçao para o voluntariado no Ecuador. Já estava à espera de ser surpreendida, mas eles superaram as minhas Lista com marcasexpectativas, apresentando-me uma organizaçao toda gerida por jovens equatorianos, com menos de trinta, muito bem organizada e eficiente. Un Techo para Mi Pais tem por objectivo a supressao da pobreza extrema na América Latina, numa primeira fase através da construçao de casas de emergência, com força de voluntários jovens. Estes voluntários, na sua maioria estudantes universitários, sao assim postos em contacto com a realidade do nível de pobreza que existe no seu país e contribuem para o soluccionar de situaçoes de emergência. A segunda fase consiste na reabilitaçao social das famílias em intervençao, num eixo prioritário a definir pela própria comunidade, por exemplo saúde ou educaçao ou o incentivo à criaçao de pequenas empresas. No Ecuador, onde Un Techo para Mi Pais existe desde 2008, o trabalho situa-se ainda na primeira fase. Nao tem cariz governamental, partidário ou religioso.

Un Techo para Mi Pais é uma licao de como planear e efectuar campanhas. Com uma missao precisa, objectivos mensuráveis por ano e uma estratégia simples e coerente, conseguem mostrar trabalho feito e motivar um grande grupo de voluntários. Os tres jovens com quem reuni estavam muito bem informados e formados, com uma grande fundamentacao teorica e ideológica do seu trabalho. Mais uma vez me arrepiei com a responsabilidade cívica destes cidadaos equatorianos.

Está agora pendente a decisao de acolherem voluntários internacionais nesta organizacao, sobretudo por uma questao muito curiosa: eles querem trabalhar apenas com jovens equatorianos e um lugar de voluntariado internacional substitui um jovem do Equador. Tal é a sua motivacao para comprometerem os jovens nas prioridades do seu próprio país. Aguardemos a sua decisao.

Tio Manel em Quito


Finalmente O encontrámos e tivemos de vir até à Basilica do Voto Popular, em Quito, para o fazer! Lua: "Olha, aquele ali com a bóia na cabeça é o Tio Manel!"

domingo, 18 de outubro de 2009

Os efeitos da linha do Ecuador

Enquanto esperamos por segunda feira para começar as nossas visitas aos projectos de voluntariado no Ecuador fomos visitar La Mitad Del Mundo, o local a norte de Quito onde supostamente passa a linha do meio do mundo.
A pergunta que nos guiou durante o percurso de hora e meia entre vários autocarros para lá chegar foi: é verdade que a água num ralo roda para um lado no hemisfério norte e para outro lado no hemisfério sul?


No museu e parque temático da Mitad Del Mundo descobrimos entre outras coisas que na linha do Ecuador a água ao escorrer por um ralo nao roda para lado algum.
É esta a imagem que se pode ver no vídeo abaixo mas toda a experiência tal como a vimos está disponível num video melhor aqui.


Neste parque temático realizaram uma experiencia à nossa frente em que dois metros a norte a água roda para a esquerda e dois metros a sul ela roda para a direita. Humm. Alertados por alguma pesquisa anterior conseguimos, após alguma insistência e aplicaçao cuidadosa do charme do detective curioso, que a nossa guia nos confessasse que esta experiência é um pequeno embuste com fins didáticos. Na verdade apesar deste efeito existir e ser verdade ele nao se verifica a uma distância tao pequena da linha imaginária do Ecuador. Nao ficámos a saber exactamente como conseguem fazer esta experiência parecer tao verdadeira mas ficámos com com comichao para saber mais sobre a força de Coriolis.

André

sábado, 17 de outubro de 2009

Em Quito

Quito, a capital do Equador, situa-se a cerca de 2850m de altitude, nos Andes. Sim, chegámos aos Andes depois de tantos anos a desejá-los!! Apesar de algumas leves tonturas e os sonos desencontrados, deixámo-nos já levar pelas ruas e pelos rostos morenos de indígenas. Hoje seguimos uma grande manifestaçao de... apoio ao presidente. Ficámos ambos algo admirados, habituados que estamos às manifestaçoes de protesto! Tanta gente e tantas cores, muitos indigenas também, apoiando a revoluçao, confiando na grande mudança liderada por Rafael Correa. Eu, pessoalmente, ainda nao percebi concretamente para onde o povo equatoriano quer caminhar, mas o trilho faz-se de socialismo nestas bandas.

Ainda nos estamos a habituar ao novo quotidiano de imprevistos. O primeiro deles todos foi terem-nos roubado a máquina fotográfica... mas entretanto adquirimos outra por 30$, provavelmente gamada também, assim contribuindo para o ciclo contínuo dos materiais tecnológicos! Poderemos entao presentear-vos com fotografias, já daqui a um bocadinho (un ratito, como se diz em espanhol). As gaiatas estao bem e divertidas, a Lua sempre de olhos arregalados para os outros miudos, também à procura das suas referências.

Sara

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Impacte Ambiental da Viagem

Vamos viajar de avião, percorrer cerca de 18000km ida e volta. As emissões de gases com efeito de estufa calculadas por passageiro para esta viagem são cerca de 6500kg CO2 equivalente.
É recomendado que uma pessoa não emita mais do que 3000kg de CO2/ ano. Como este ano já passámos a nossa conta, temos de compensar.
Podemos fazê-lo pagando para plantar árvores ou para diferentes projectos de energias renováveis aumentarem a sua capacidade de produção ou podemos nós próprios reduzir o nosso impacte ambiental.

Procurámos emitir menos que 3000 kg de CO2 equivalente por pessoa por ano. Então fomos calcular a nossa pegada ecológica e concluímos que emitimos cerca de 7000kg de CO2 / ano.

Conclusão primeira: consumir mais local, mais biológico, menos transformado, mais sazonal, mais natural. Mais exercício, menos pc, mais natureza, menos viagens.
Conclusão posterior: Precisamos de ajuda das árvores! Uma pessoa precisa de plantar no mínimo 7 árvores por ano para absorver 7000kg de CO2 por ano (referencia).




Já só falta um dia!

Malas feitas e tudo a postos para esta viagem que nos levará ao seio dos movimentos sociais no Equador e no Peru! Partimos rumo a Quito: André Vizinho e Sara Serrão, mais as duas gaiatas, e levamos connosco todos os colaboradores do GAIA e tod@s @s voluntári@s que, no futuro, vão usufruir das pontes que agora criamos.
Segue connosco também, pelos trilhos dos Andes e da Amazónia, e conhece como se movimentam os cidadãos pela construção da sociedade solidária e sustentável. Desafia os teus preconceitos!
Esta é a nossa proposta.